Mesmo que o mundo não me veja, estou aqui
Você pode
me observar sentada em um trem, um ônibus, perambulando por uma rua cercada
pela iluminação inclemente e álgida de postes de luz. Os cabelos caem em meu
rosto em um dia, outro estão tão presos que parecem que foram costurados na
cabeça. Passo abraçada em jaquetas, correndo com regatas, ajeitando uma saia
prensada, jeans que pulam do azul para o cinza dependendo do ângulo das nuvens.
Entre copos regados de cafeína, livros e a solidão de um celular tocando Five for Fighting, seu olhar pousa em
mim como uma mariposa guiada por uma fagulha de luz. Isso irá durar talvez
dois, cinco, dez segundos.
Depois sou
novamente invisível.
Mergulhada
no sol da manhã posso até acreditar nisso. Na minha invisibilidade. Em como a
multidão de corpos em uma praça pode ofuscar meu próprio corpo. Em como o som
de tantas vozes podem calar a minha. Em como cada passo e batida de bota,
sandália e tênis pigmentados com a poeira de ontem é capaz de absorver os meus.
A
invisibilidade parece palpável. Aumento o som apenas para mim, tentando
encontrar palavras que se contradizem a isso.
Eu estou
aqui?
Sim, embora
seja apenas um borrão na memória da maioria. Um rascunho em preto e branco que
ninguém entenderia, mesmo que pudesse gastar mais do que um tempo olhando para
o fundo dos meus olhos.
Sou visível
para os meus pensamentos e fantasias. Sou visível para esse arranjo de musicas
em um MP3 obsoleto. Acordada em um mundo onde todos parecem dormir. Um grito,
mesmo que ele soe como um sussurro.
Quando estou desolada, conjecturo que ainda
existe alguém que posso abraçar e sentir que pertenço a esse lugar. Mesmo parecendo um
recôndito, consigo sentir que sou visível sobre algumas raras pessoas. Sou um livro
que poucas pessoas conhecem o título, mas ainda sonho que alguém ainda vai se interessar pela história, mesmo que esteja em
desenvolvimento.
Um planeta
que ainda não foi descoberto, mesmo que sobrevenha orbitando. Vivendo.
Uma música
que prossegue tocando no rádio, na sintonia que apenas funciona no meu ritmo.
Crescendo, se construindo, correndo, chorando e sentindo o calor dos poucos
ombros que conhece.
E acredite, mesmo que o mundo não me veja,
estou aqui
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