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Mostrando postagens de 2018

Aprisionada pelo meu medo

Multidões sempre me assustaram. Não lembro quando isso começou, o primeiro gatilho. Mas sei que me sinto sufocada em lugares cheios desde os sete anos. Era praticamente invisível na escola, uma voz enclausurada em uma gaiola de pânico. Desde então busco conforto em lugares mais isolados. Bibliotecas cheias de poeira, livrarias com novas sequências dos meus livros favoritos, aulas de pintura, meu quarto. Qualquer lugar que não seja notada. Quando vou a uma festa, sempre estou com um livro bem grosso de muleta e respostas prontas que ensaiei na noite anterior. Não vou chamar você para conversa. Estou ali apenas para responder e voltar ao meu confortante silêncio. Se você me chamou para sair, sinto muito. Provavelmente irei desmarcar um dia antes, alegando qualquer tipo de problema. Na verdade apenas   estarei em casa, exausta com a ideia de sair. Certamente terei passado a noite toda revirando o travesseiro pensando nesse dia, em como farei algo humilhante no nosso encontro. Vou

Carta para a mulher mais incrível do mundo

Mãe, Hoje é seu dia. Quer dizer, para mim, todos os dias são seus. Todos os dias são especiais com você, mãe. Você está presente nas minhas melhores lembranças. Está comigo desde as lembranças que não tenho. Você suportou meus choros noturnos, escutou minha primeira palavra, ensinou-me como sentar e caminhar. Viu meu cabelo crescer, aguentou meus pedidos inacreditáveis quando criança. Suportou minhas escolhas calculadas quando tinha cinco anos e as famosas birras e implicâncias. Levou-me para a escola, mesmo sabendo que naquele dia, naquele primeiro dia de aula, iria machucar tanto nós duas. Estava do meu lado quando ralei o joelho depois de correr demais. E aguentou meus pedidos incessantes para ter um cachorro, mesmo que nosso quintal fosse relativamente pequeno. Você leu o meu primeiro livro, quando apenas podia observar as gravuras e me encantar com as cores. Me ensinou a escrever, desenhar palavras e moldar significados. Você me apoiou em meus dias mais escuros e

PERDER E SE ENCONTRAR

Eu pensei que o mar era meu lugar Fui para longe do meu lar Apenas para me afogar Em um oceano escuro Lágrimas de verão tocaram em mim E aquelas nuvens de cor marfim Não me lembravam do carmim Da minha casa Eu corri para o oceano Sem me dar conta do dano Aquilo foi um engano Não era para mim     Eu pensei que ia me encontrar Mas as ondas conseguiram apenas me afastar E me carregar Para longe de mim mesma Então eu finalmente descobri Que não poderia mais ficar ali Que tinha que sair dali E voltar Por muito tempo estive errada Minha verdade estava dilacerada E eu me sentia quebrada Por tudo Aquilo era uma verdade irreal Não era meu ideal Eu havia sido desleal Comigo mesma Meu mundo não era azul e salgado Era amarelo e adoçado Com palavras que havia sonhado Com meu coração Eu precisava das palavras para continuar E o passado abandonar Para poder me apaixonar Pelo que na verdade, sempre havia amado

O REI E A RAINHA

Nessa pista de dança Nós somos o destaque Somos a marca e a herança O rei e a rainha Não precisamos nos esforçar Você possui toda a delicadeza De um membro da realeza Alguém que nasceu para reinar Seu vestido diz tudo O azul combina perfeitamente Com o tom ruivo E a maciez dos seus lábios Passos lentos, guiando para o centro Tudo parece estonteante Uma chama me queima por dentro Seria isso o amor? Nós estamos afundando, mergulhando Tudo parece tão ofuscante Como se estivéssemos brilhando Sim, somos a própria luz Segure minha mão Eu não vou soltar Esqueça a multidão Eles não podem nos parar Fora dali podemos ser invisíveis Mas naquele baile, naquela noite Éramos governantes invencíveis O rei e a rainha em nosso próprio reino

UM MUNDO MAIOR

Essa garota veio de uma cidade sem nome Onde as sombras crescem E as luzes do sol se esvanecem E ninguém tem esperança Ela escuta canções novas E   coleciona olhares dispersos Folhas caindo e um céu imerso Que promete que a levara para longe     Ela lê sobre velhos e novos autores Páginas e páginas de eternos romances As promessas de uma chance Em algum lugar, algum lugar Ela lê para viver mil vidas Enquanto tenta aproveitar a sua única Caminhando e caminhando em sua própria mágica Além desse mundo pequeno demais Sim é um mundo pequeno para ela Um mundo tão pequeno para ela Ela quer algo que seja só dela Uma realidade de um mundo maior Não existem limites nesse novo mundo Tantas pontes quanto um livro pode construir Quanto às palavras podem reconstruir Nos vazios que ela tenta preencher Ela continua andando, andando Mesmo que digam que não tem futuro Querem que ela construa muros Mas ela apenas quer fugir Fuja, f

O QUE EU NUNCA SEREI

Sabe o que me machuca, machuca? Que eu nunca serei a filha perfeita Eu sei, não é um fato omisso Faz muito tempo que sei disso E por muitas vezes chorei Mesmo que sem lágrimas Eu escondi e solucei Mas não deixei que visse Eu era uma boneca quebrada Porcelana, impossível de se consertar Eu nunca serei como as outras Tentei até não agüentar Queria ser uma menina forte Queria ser uma lutadora corajosa Queria falar sem que meu coração tremesse Queria que alguém me entendesse Eu queria ser bonita Ser especial, delicada Mas sou apenas uma alma calada Tentando inutilmente ser alguém Queria ser o sol Mas sou apenas um floco de neve Ao menos o calor de um cachecol Mas sou apenas fria, fria Desejava ser inteligente Apenas parar de fugir de tudo Ser uma biblioteca gigantesca Mas sou um capitulo escrito de forma grotesca Eu queria ser o tudo Aproveitar um imenso mundo Mas toda essa grandeza está apenas Encurralada na
PALAVRAS Eu sempre tive problemas com as palavras Elas eram as lanças que me feriam E os braços que me acolhiam Lágrimas com um sorriso incompleto Um quarto e um fone de ouvido Com músicas tristes fluindo abafadas Elas não pareciam mais estagnadas Elas eram parte de mim Ao lado de uma caneta Com um papel branco nas mãos Eu poderia afastar toda a solidão Que sentia cada segundo, cada segundo Queria abrir os olhos E ver que tudo aquilo era real Que cada pedaço fictício e surreal Era meu novo presente E então eu olhava para a lua Por trás da cortina que balançava E me encolhia e soluçava Tentando ignorar toda a dor Queria que uma estrela Pudesse atender um singelo pedido Palavras que meus dedos haviam proferido Sobre um céu de sonhos As palavras são minha companhia Elas são o que meus lábios calam O sopro de emoções que dançam Agora apenas para mim, para mim Há um constante nó no meu peito E eu me sinto tão desp
SAPATILHAS A ponta do meu pé toca o chão Eu sinto suavemente a pressão Para o meu corpo se sustentar E um sorriso me alentar Seguro-me em minha confiança Sobre o palco confidencio uma aliança De permanecer, de brilhar Mesmo que esteja a beira de desabar A roupa parece voar Com o sopro da brisa, rodar Eu sou fraca, mas me sustento Mesmo com um leve estremecimento Dou alguns passos, sigo a batida De uma música suave de tristeza e vida Incorporo o som e seus gestos A sonoridade mutua de um adeus modesto Despedida e presença, chegada e partida Flutuo sobre o chão ligeiramente abstida Engasgada por luzes que remetem o amanhecer Rosáceo e partido, um belo enaltecer Aproprio-me de movimentos mais rápidos Meus dedos sentem um toque acido Da sapatilha rasgando o chão cinzento Um lamento rápido e sedento Giro apoiando-me no vento Batidas cardíacas em um constante aumento Estilhaçada pela liberdade da dança Sinto-me felicit
COMO É SER TÍMIDA? Se você é uma pessoa extrovertida, provavelmente não faz a mínima ideia de como funciona a mente e o coração de um tímido. Se você é um tímido, talvez se identifique. Bem, eu sou tímida. Eu sempre fui. Desde que me lembro, pelo menos. Eu já deixei de falar com muitas pessoas, ignorei muitas outras. Não por raiva, não por aversão. Nada disso. Apenas não me sentia segura o bastante para tomar atitude e tomar o controle de uma conversa. E se você for uma dessas pessoas, gostaria de me desculpar. Não é voluntário. O silêncio é quase como um impulso. Meus olhos podem cair sobre alguém, posso fixar minha atenção nos detalhes de sua conversa, na movimentação dos lábios e nas risadas. Uma parte de mim, alguma parte, pensa profundamente em caminhar até o grupo e puxar um papo, em falar. Mas assim que você perceber minha presença, isso desaparece. Transforma-se em uma espécie de pânico. Meus olhos se depreendem e voltam para o solo. O chão parece ser a únic
AMAR É COMO... Amar é como ficar embriagado, cambaleante em um sentimento poderoso  que te derruba e te domina. Amar é como estar viciado, sedento por uma companhia que você precisa e que retribui. Amar é como ser amiga e inimiga do tempo. Cinco minutos podem parecer eternos quando quem se ama está ausente e pouco quando ela está presente. Amar é como sorrir. É aquela sensação boa de enrugar os cantos do lábio e sentir que a felicidade real existe. Amar é como estar feliz. Feliz por ter recebido aquela ligação calorosa no fim da tarde estressante, por receber um presente no dia dos namorados. Feliz por correr na rua para abraçar a pessoa.   Por ter alguém para retribuir aquele sentimento. Amar é como fazer planos. Fazer planos daquela viagem no fim do ano. Planos de acordar de manhã cedo e presentear o amado com um café na cama. Planos de simplesmente pegar o elevador de mãos dadas. Amar é como dançar. Dançar colado, sentindo o coração do amado batendo como se fosse
O MONSTRO Ele me odiava. Citava meus defeitos e erros como o fogo que eternamente queima, marca e incendeia. Era um monstro. Uma criatura que me acompanhava por onde eu caminhava. Lembro-me de seus olhos. Animalescos, pintados de vermelho como sangue vivo. Presas longas que poderiam cortar aço e feições grotescas e assustadores, raízes e pêlos, cinzas e negros. Era o gelo e a dor, pintadas num quadro que me arrepiava. Mas ele estava sempre comigo. Sempre. Em cada momento da minha vida. E eu não pedia para ele ir embora. Não o empurrava, gritava ou suplicava para ele ir. Não chorava implorando para que ele me deixasse. Era o oposto, eu pegava e segurava sua mão, sentindo o seu toque, apreciando aquela sensação. Sua voz. —Você é uma estúpida!- Sussurrava ele no meu quarto, enquanto tentava soprar as lagrimas que me cobriam- Você é uma inútil? —Mas eu não quero ser!- Rebatia, apertando meus punhos contra mim. —Estúpida! Feia! Insuportável! —Não... Eu sent