Multidões sempre me assustaram.
Não lembro quando isso começou, o
primeiro gatilho. Mas sei que me sinto sufocada em lugares cheios desde os sete
anos. Era praticamente invisível na escola, uma voz enclausurada em uma gaiola
de pânico.
Desde então busco conforto em lugares
mais isolados. Bibliotecas cheias de poeira, livrarias com novas sequências dos
meus livros favoritos, aulas de pintura, meu quarto. Qualquer lugar que não seja
notada. Quando vou a uma festa, sempre estou com um livro bem grosso de muleta
e respostas prontas que ensaiei na noite anterior. Não vou chamar você para
conversa. Estou ali apenas para responder e voltar ao meu confortante silêncio.
Se você me chamou para sair, sinto
muito. Provavelmente irei desmarcar um dia antes, alegando qualquer tipo de
problema. Na verdade apenas estarei em
casa, exausta com a ideia de sair. Certamente terei passado a noite toda
revirando o travesseiro pensando nesse dia, em como farei algo humilhante no
nosso encontro. Vou pensar em tudo que pode dar errado, tudo que posso fazer
dar errado. Então, finalmente irei desmarcar.
Não posso ir.
Enquanto tudo que queria dizer é:
sinto muito. Meu medo me deixou novamente presa em casa. Ele está de vigia na
porta, examinando meus passos, impedindo-me de dar um passo para fora.
Não consigo sair.
Você não me entende e nem pode. Apenas
eu conheço meu monstro, o medo que me abraça e diz que tudo vai dar errado. Que
a multidão irá me ferir, suas palavras vão me cegar. Eu conheço os batimentos
acelerados, os tremores e a sensação de estar caindo no abismo. O medo que vive
em mim.
Esse ano inscrevi-me em um curso de
teatro. Disseram que iria ajudar com minha batalha interna. Mas agora, perto da
apresentação, sinto que sou uma gladiadora sem armas lutando contra um
exército.
Passo a noite lutando contra a apreensão.
Sinto que vou desabar e que o medo vai se apoderar mais uma vez, mais forte do
que nunca.
Todo dia eu quero desistir. Todo dia
quero parar de lutar e apenas ficar em casa, segura.
Seria mais fácil, não seria?
Existe uma pequena parte de mim que
ainda tem forças. Ela é pequena e pouco iluminada, mas é minha única aliada
contra tudo que sinto. Ela que me obriga sair da cama e enfrentar mais uma vez
minha guerra particular.
Eu quero vencer essa luta, mesmo que
seja uma única vez.
Passei toda a vida sufocada. Talvez
seja hora de finalmente conseguir respirar.
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