Quando meus amigos se tornaram estranhos? Passo pela rua. É uma daquelas vias entupidas de gente e barulho, uma avenida bem comprida, pessoas atravessando, empurrando e falando tão apressadamente que seria impossível um ser humano normal acompanhar tantas vozes. E em meio a tantas pessoas, encontro seu olhar. Você era meu amigo no colegial. Do tipo de amigo que você divide o lanche e os segredos com a mesma facilidade que respira. Fazia anos, mas ainda conseguia encontrar os traços que te definia naquele corpo adulto. O sorriso apolíneo e charmoso, a covinha no canto esquerdo da bochecha. Seus olhos, a mesma cor, o mesmo castanho escuro, a mesma intensidade e enigma. Era você. Nossos olhos se encontraram por um décimo. Cruzando, enquanto o mundo parecia parar de girar. Então tudo acabou. Prosseguimos em lados opostos, embora meu coração palpitasse por uma palavra apenas. Quando nos tornamos estranhos? Caminhei pensando com quantas pessoas isso tinha acontecido. Amig